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Por que os lucros do Itaú continuam a crescer mesmo na crise
São Paulo – De julho a setembro, o Itaú teve um lucro líquido de 5,94 bilhões de reais, um avanço de 10% ante o mesmo período de 2014. Os ganhos do banco não param de aumentar desde o primeiro trimestre de 2013, em valores corrigidos pela inflação, conforme dados da Economatica.
Mas o que leva a empresa a conseguir resultados tão positivos mesmo em períodos de dificuldade macroeconômica, como o atual?
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Segundo especialistas consultados por EXAME.com, a natureza do negócio, operações no mercado financeiro e apostas certeiras em serviços e linhas de crédito seguras, além do reajuste de taxas, são algumas das respostas.
No terceiro trimestre, o produto bancário do Itaú, que é a soma de todas as suas receitas, chegou a 26,94 bilhões de reais, um crescimento de 15,6% antes os mesmos meses do ano passado.
A margem com o mercado é resultado das atividades de tesouraria do banco, que envolvem, por exemplo, a negociação em bolsa de derivativos (contratos com preços pré-fixados e vinculados a variáveis como dólar, inflação ou valor de outros ativos).
«O ambiente de maior volatilidade e as taxas mais altas possibilitam maior ganho no mercado», disse Marcelo Kopel, diretor de relações institucionais do Itaú, em conferência com jornalistas para divulgação do balanço.
Ajuda da tesouraria
Para Pedro Galdi, analista da Whatscall consultoria, essa frente teve um papel fundamental para o lucro no trimestre – e vai continuar a ter enquanto a economia não melhorar.
«É na tesouraria que se faz o diferencial quando a economia está com viés de enfraquecimento e o dólar com viés de alta. Como as operações jogam com esses dois vetores, é possível conseguir alta rentabilidade», disse em entrevista a EXAME.com.
Já a margem com o mercado vem dos empréstimos concedidos. Entre julho e setembro, a carteira de crédito total do banco (incluindo avais, fianças e títulos privados) somou 590,67 bilhões de reais, um aumento de 5,5% ante o mesmo período de 2014.
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Porém, descontada a variação cambial proveniente das atividades no exterior, a carteira encolheu 0,4% na mesma comparação.
De acordo com Samuel Torres, analista da Fator Consultoria, ainda que as pessoas e empresas não estejam tomando mais empréstimos, a flutuação do câmbio e o reajuste das taxas de juros possibilitam que o banco ganhe mais dinheiro.
«Comparando ano contra ano, o Itaú vem aumentando o seu spread (diferença entre os juros cobrados e os custos para captar recursos)», explicou em entrevista a EXAME.com.
Tal balanceamento é essencial para o setor financeiro, de acordo com Galdi, da WhatsCall.
«O valor das tarifas tem de ser maior do que o da provisão de perdas. É o spread que vai trazer o retorno, ele precisa subir mesmo. Banco tem essa alternativa de se flexibilizar ao cenário econômico, por isso não perde dinheiro nunca», disse.
Crédito mais seguro
De todos os tipos de financiamento oferecidos pelo Itaú, os que mais chamaram a atenção no trimestre foram o imobiliário e o crédito consignado. As modalidades cresceram 21,5% e 25,4%, respectivamente, na comparação anual. Ambas são frentes menos vulneráveis à inadimplência.
Já a linha de cartões de crédito avançou pouco (1,4%) e a de veículos caiu 30,9%, sob a mesma análise – as duas são mais arriscadas.
Os empréstimos corporativos, por sua vez, aumentaram 9,7%, puxados principalmente pelas companhias de grande porte. «Mas na carteira de grandes empresas não houve aceleração. O aumento foi efeito do câmbio», explicou Kopel, diretor de RI do banco, na coletiva.
O fortalecimento dos produtos mais seguros não aconteceu por acaso. Investir nessas opções de crédito e dificultar o acesso às mais vulneráveis é uma estratégia que o Itaú desenvolve há algum tempo e que também tem influência sobre seus lucros crescentes.
Além disso, lembrou Torres, da Fator, o banco também tem focado em fontes de recursos «mais resilientes» não ligadas a crédito.
Do lucro recorrente de 6,1 bilhões de reais apresentado no terceiro trimestre (que exclui receitas e despesas excepcionais), uma parcela de 55% foi proveniente de atividades de seguros e de serviços (aqui estão incluídas as receitas da Rede, das taxas de manutenção de contas e das corretoras, por exemplo).
No trimestre anterior, a fatia do lucro recorrente que correspondia a esses setores era de cerca de 52%.
Uma hora, a crise vai bater
Para os especialistas ouvidos por EXAME.com, os efeitos da crise econômica ainda não chegaram com força no Itaú – mas vão se tornar mais visíveis ao longo do próximo ano.
«Não vejo o Itaú diminuindo o lucro, mas o crescimento vai ser menor», disse Samuel Torres, da Fator.
Na visão dele, um dos indícios dessa desaceleração é o fato de que, no acumulado do ano, o lucro líquido do banco subiu 20% – de 14,72 bilhões de reais nos nove primeiros meses de 2014 para 17,66 bilhões em 2015 – um índice de crescimento duas vezes maior do que o observado apenas no trimestre.
Também seria um alerta a expectativa da empresa de que a inadimplência cresça no próximo ano, em meio ao aumento do desemprego e à atividade econômica fraca.
+ Veja aqui as previsões do banco para a economia em 2016
«É de se esperar que haja uma subida (da inadimplência) em linhas de crédito que não têm garantia, como cheque especial e rotativo, mais expostas ao ciclo econômico», havia dito Kopel, diretor de RI.
De julho a setembro, o índice de não pagamento para dívidas vencidas acima de 90 dias ficou em 3%, mesmo patamar do trimestre anterior.
Outro indicativo de um avanço mais modesto dos lucros em 2016 seria o aumento da provisão para devedores do Itaú (reserva de dinheiro direcionada à cobertura de possíveis calotes).
Essas despesas foram de 5,52 bilhões de reais no segundo trimestre para 5,74 bilhões de reais no terceiro.
«O Itaú está mais seletivo, não empresta tanto quanto antes, não financia carro para todo mundo. Mas ninguém vai se dar bem nesse ambiente em que a economia se deteriora com rapidez. Com os clientes quebrando, a inadimplência vai bater nos bancos», enfatizouGaldi, da WhatsCall.EXAME
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