Internacionales
O Rio de Janeiro morreu
FOTO. DESCONSOLO Moradora idosa do Complexo do Aelmão: ao contrário de políticos ladrões e de traficantes, ela trabalhou honetamente na vida, sonhando com aquilo que não tem – um cantinho de paz (Crédito: Divulgação)
Antonio Carlos Prado
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Sejamos realistas porque olhar a realidade não mata ninguém – o que mata é tiro. O Rio de Janeiro não é mais o Rio de Janeiro da Copacabana chamada “princesinha do mar” (na intimista e romântica voz de Dick Farney); o Rio de Janeiro não é mais o Rio de Janeiro da alegre “calçada cheia de gente” (na poesia do não menos romântico Antonio Maria); o Rio de Janeiro não é mais o Rio de Janeiro que “continua lindo” (no politizado samba de Gilberto Gil). O Rio de Janeiro morreu. E foi morrendo nas mãos de um poder público podre que jogou no lixo a segurança de sua população. Sejamos, mesmo, realistas: é tiro de traficante que manda de fato no Rio de Janeiro, e seguirá mandando cada vez mais se admitirmos (realisticamente) a falência das Unidades de Polícia Pacificadora – última tentativa de paz que ainda nos alentou. A prova disso, mais uma vez, veio na semana passada do Compelxo do Alemão. Nele, nos últimos cinco anos, o número de confrontos aumentou 13.746% (1.555 trocas de balas somente em 2016). Sem desviar o olhar da realidade poeirenta e chapa quente do morro, é bom lembrar que foi nesse local que se inaguraram as UPPs, e agora, como se viu nos últimos dias, é também nesse local que a polícia teve de erguer uma torre blindada e nela se confinar para tentar sobreviver. Quem não sobrevive mais na favela, desde a segunda-feira 24, é o garoto de treze anos Pedro Henrique de Morais, morto em meio a tiroteio; quem não sobrevive mais na favela, desde a quarta-feira, é Felipe Farias, igualmente morto devido a confrontos armados. Foram cinco mortes em seis dias. Uma infinidade de casas, de gente pobre e idosa que trabalhou a vida inteira por um cantinho de paz, está com as paredes marcadas por tiros de fuzil – tiros dos traficantes e tiros dos policiais de um Rio de Janeiro que morreu.
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