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Guerra no Oriente Médio: como a escalada do conflito pode prejudicar a economia do Brasil

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Especialistas ouvidos pelo g1 destacam que ataques do Irã a Israel trazem impacto imediato no preço do petróleo, com possível contaminação dos preços dos combustíveis. Dólar e inflação também podem ser pressionados.

Por Bruna Miato, g1

Imagem mostra destruição após ataque de Israel a Haret Hreik, bairro de Beirute, capital do Líbano — Foto: Ibrahim Amro / AFP

Imagem mostra destruição após ataque de Israel a Haret Hreik, bairro de Beirute, capital do Líbano — Foto: Ibrahim Amro / AFP

Os conflitos no Oriente Médio vivem mais um momento de acirramento, com o ataque do Irã a Israel.

Depois de quase um ano dos ataques do grupo terrorista Hamas aos israelenses, e de uma guerra que devastou a Palestina, o enfrentamento vinha escalando com a entrada do grupo extremista Hezbollah — que nasceu no Líbano, é financiado pelo Irã e aliado do Hamas.

Há uma semana, Israel vem bombardeando regiões do Líbano. Nesta terça-feira, lançou uma operação terrestre «limitada» contra alvos específicos do Hezbollah. A escalada dos ataques entre os dois lados começou após explosões em série de pagers e walkie-talkies de membros do grupo, que acusam Israel pelo ataque.

Para além da tragédia humanitária, com as mortes e a migração, que deixa milhares de desabrigados, a guerra também pode trazer sérios impactos econômicos para o mundo, inclusive o Brasil, por se tratar da região mais importante para a produção de petróleo.

Após o ataque do Irã, os preços do barril de petróleo no mercado internacional dispararam 5%.

Petróleo e combustíveis

Todos os especialistas ouvidos pelo g1 afirmam que o maior problema para a economia brasileira com a escalada do conflito no Oriente Médio é a elevação do preço do petróleo. A possibilidade de envolvimento de outros países na guerra sempre gera receio de uma queda ou interrupção na produção.

Helena Veronese, economista-chefe da B.Side, diz que a entrada do Irã no conflito era o maior dos riscos, tendo em vista que o país apoia o Hezbollah e é um dos maiores produtores de petróleo do mundo.

O professor Paulo Feldmann, da FIA Business School, faz um paralelo da situação com o que aconteceu durante a pandemia de Covid-19, quando as medidas de isolamento e controle da doença causaram problemas de produção e escoamento de matérias-primas essenciais para as indústrias, o que encareceu os produtos.

«Podemos ter algo parecido em relação ao petróleo e não é a primeira vez que o mundo vai se deparar com uma crise da commodity decorrente de problemas bélicos no Oriente Médio», diz Feldmann.

No começo do conflito entre Israel e Hamas, por exemplo, logo no primeiro dia útil após os primeiros ataques o preço do barril de petróleo avançou mais de 4% nas primeiras horas do dia, próximo ao patamar de US$ 90.

Depois da elevação desta terça-feira (1º), o preço da commodity subiu para a casa dos US$ 75. Ontem, havia fechado em US$ 71.

«Com medo de uma eventual escassez ou disrupção do transporte de combustíveis, que levariam ao aumento futuro do preço, os compradores já se antecipam e estocam petróleo, o que leva a uma subida imediata do preço», explica Emanuel Pessoa, especialista em Direito Internacional.

Em um cenário de manutenção dessa alta forte do petróleo, o Brasil poderia enfrentar avanços nos preços dos combustíveis, principalmente gasolina e diesel.

Dólar

Assim como acontece no mercado de commodities, os investidores também podem, por receio de uma maior escalada do conflito, migrar seus investimentos para o dólar, valorizando a moeda norte-americana, principalmente em relação aos países emergentes.

«Apesar da elevada dívida dos Estados Unidos, o dólar ainda é considerado a moeda de reserva global, de modo que em toda crise, os investidores correm para aportar dinheiro no mercado norte-americano, retirando investimentos de países mais voláteis e arriscados, entre os quais o Brasil», comenta Emanuel Pessoa.

«Com isso, há uma fuga de capitais que acaba pressionando a cotação do dólar», destaca o especialista.

Somado aos fatores de incerteza interna — sobretudo o cenário fiscal brasileiro, com dúvidas sobre a capacidade do governo de arcar com as contas públicas —, há uma corrente de pressão contra a taxa de câmbio, que já acumula alta de 12% neste ano.

Pressão inflacionária

Com combustíveis e dólar pressionados, a próxima a sofrer é a inflação. A gasolina tem um forte peso no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do país, pontua Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos.

Assim, uma disparada persistente do petróleo tende a ser refletida muito rapidamente nos índices de preços. Há impacto também no diesel, que é combustível para caminhões. Quando o diesel sobe, há reflexos na cadeia logística, já que o transporte rodoviário é a principal forma de escoamento de produtos no país.

Um aumento no preço do frete encarece toda a cadeia de produção, e a inflação acaba sendo repassada ao consumidor final nos valores de produtos, como alimentos e bebidas.

Andréa destaca que os preços dos combustíveis no Brasil apresentam uma defasagem porque estão mais caros do que o praticado no resto do mundo. Assim, há um espaço para a Petrobras segurar aumentos, pelo menor por um tempo, caso a guerra tome proporções maiores.

Mas Helena Veronese, da B.Side, complementa que «toda guerra tem uma característica inflacionária» porque costuma impactar a distribuição de produtos importantes para todo o mundo. «Quanto mais tempo dura a guerra, maior a pressão inflacionária».

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