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É prematuro deixar de exigir máscara com alta de casos na China e Europa

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O anúncio foi feito pelo governador João Doria (PSDB) durante o programa «Brasil Urgente» (Band), do apresentador José Luiz Datena, pré-candidato ao Senado na chapa encabeçada pelo PSDB em São Paulo. A medida vale no estado de São Paulo a partir desta quinta (17). No Rio, a flexibilização já está em vigor desde o último dia 7.

Dados de sequenciamento genômico de laboratórios públicos e privados mostram que a BA.2 responde atualmente por 2% a 5% das amostras sequenciadas no Brasil. Há estudos que sugerem que ela possa ser até 40% mais transmissível que a linhagem anterior.

Segundo Alexandre Naime, vice-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), embora a liberação das máscaras em ambientes fechados seja um passo natural nas medidas de flexibilização, isso só deve acontecer dentro de um cenário em que os marcadores epidemiológicos mostrem uma queda linear e sustentável dos casos novos e de taxas de transmissão.

«E não é o que a gente está vendo. A média móvel de casos novos no Brasil caiu muito, mas agora está num platô, não está baixando mais. Vivemos um cenário de incerteza a curto prazo. Há uma preocupação com avanço da subvariante BA.2», diz.

Segundo ele, levando em conta que a BA.2 deve ser tornar a variante predominante nas próximas semanas, talvez não seja o momento de liberar as máscaras em ambientes fechados.

«As decisões precisam estar mais bem baseadas em indicadores científicos do que em discurso político. Não é porque o Rio liberou que a gente tem que liberar», afirma.

«[Sobre o aumento da alta de casos na Europa] Não dá para colocar tudo nas costas do vírus. Apesar de a BA.2 ser mais transmissível, ela deixa de ser se você estiver usando constantemente máscaras.»

Uma alternativa a ser avaliada, segundo ele, seria uma flexibilização com separação de ambientes fechados. Por exemplo, bancos e repartições públicas são locais fechados, com aglomeração, e não seriam candidatos a uma liberação neste momento. Já ambientes mais espaçosos, como museus, que permitem um distanciamento entre as pessoas, talvez sejam.

O epidemiologista Eliseu Waldman, professor sênior do departamento de epidemiologia da USP, concorda que sejam diferentes os riscos de contágio de estar em um ônibus lotado e em um museu, mas diz que condutas muito específicas podem não ser compreendidas por parte da população.

Ele também considera apressada a liberação do uso da máscara em ambientes fechados e diz que o ideia seria esperar a pandemia entrar, de fato, em uma fase endêmica. «Precisamos entender em que patamar vamos ficar nessa situação endêmica. [a decisão de Doria] É uma conduta política, em ano eleitoral.»

Na sua opinião, o governo paulista poderia fazer uma avaliação caso a caso, começando, por exemplo, em locais mais vazios, mais amplos, com melhor troca de ar com o meio externo e com sistemas de filtragem de ar mais eficientes.

«Em transporte público, ambiente hospitalar, casas de repouso, escolas, academias, seria mais razoável fazer uma flexibilização gradual, de forma que se consiga avaliar os impactos e não fazer no afogadilho como está sendo feito agora.»

Segundo ele, esses cuidados deveriam ser tomados independentemente da circulação de novas variantes. «Não é prudente fazer isso de uma vez. Seria importante a flexibilização em locais fechados ser gradual, seguindo o nível de risco associado a cada espaço.»

A farmacologista Soraya Smaili, professora da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e coordenadora do Centro SOU Ciência, também avalia a liberação como prematura. «Não conseguimos entender muito bem porque tanta pressa na retirada das máscaras sendo que é uma medida tão segura e ao mesmo tempo tão necessária», diz.

Segundo ela, não faz ainda duas semanas desde a flexibilização do uso de máscaras em ambientes externos, então, teria sido mais razoável aguardar alguns dias para que os dados fossem observados a partir desta liberação.»

Do ponto de vista individual, os especialistas dizem que as pessoas que desejam maior grau de proteção devem continuar usando máscaras pff2, bem vedadas ao rosto, em ambientes fechados.

«Quando a gente fala de máscara de pano ou cirúrgica, falamos de proteção coletiva, ou seja, para reduz o risco de transmitir o vírus para outra pessoa. Agora, para você se proteger dos outros, a ideal é a pff2», explica Vitor Mori.

Soraya Smaili vai além. Ela sugere que a utilização das máscaras pelas pessoas seja mantida de forma permanente. «Nós deveríamos criar o hábito de utilizá-la porque ela pode impedir a transmissão não só do coronavírus como de outros vírus respiratórios.»

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