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Sensação térmica de 70 graus? O fenômeno por trás de onda de calor escaldante no Brasil
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ceira onda de calor de 2025, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
A partir desta segunda-feira (17/2), serão afetados municípios nos Estados do Mato Grosso do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraná, se estendendo, posteriormente, por Goiás e Bahia.
No Rio de Janeiro, a sensação térmica passou de 40ºC nesta segunda, e a cidade atingiu o nível 4 de calor pela primeira vez desde que o protocolo municipal de temperaturas extremas foi implementado, em junho do ano passado.
O nível 4 é caracterizado por índices de calor muito alto (40°C a 44°C) com previsão de permanência ou aumento por, ao menos, três dias consecutivos.
Na semana passada, a região Sul do Brasil viveu a primeira grande onda de calor do ano.
Rio Grande do Sul, Santa Catarina e algumas áreas do Paraná estão, desde então, sob alerta vermelho de grande perigo por causa dos recordes registrados nos termômetros nos últimos dias.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (InMet), «as temperaturas máximas estão elevadas em grande parte do país, uma característica típica do verão».
De acordo com as definições da Organização Meteorológica Mundial, esse evento extremo acontece quando as temperaturas máximas diárias ultrapassam em 5°C ou mais a média mensal durante, no mínimo, cinco dias consecutivos.
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Massa de ar quente
A pesquisadora Marina Hirota, professora associada da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explica que há uma massa de ar quente instalada na região que compreende o Sul do Brasil, o norte da Argentina e partes do Paraguai.
«Essa massa de ar quente acompanha a subida de um ciclone extratropical, que passa muito longe do Brasil nessa época do ano», contextualiza ela.
A especialista pontua que as frentes quentes associadas ao ciclone extratropical não costuma chamar muita atenção no nosso país — seus efeitos são mais sentidos e comentados em locais como Estados Unidos e Canadá, onde eles causam nevascas e chuvas intensas em determinadas épocas do ano.
Hirota entende que a onda de calor atual possui duas particularidades, além da maior intensidade da massa de ar quente.
«Aliada à intensidade da massa de ar quente, nós temos os chamados jatos de baixos níveis», diz ela.
Esse fenômeno é popularmente conhecido como «rios voadores», que descreve os grandes fluxos de umidade que vêm da Amazônia, passam por Centro-Oeste e Sudeste, e desembocam na região do rio da Prata.
«Aliado às altas temperaturas, temos poucos ventos e uma grande umidade. Essa é uma receita para nosso corpo não conseguir suar adequadamente», acrescenta ela.
A junção de todas essas coisas faz com que a sensação térmica suba ainda mais — falaremos mais sobre essa questão a seguir.
Uma segunda particularidade da onda de calor, especialmente no Rio Grande do Sul, é a topografia da região.
«Especialmente no litoral gaúcho, temos um vento que sopra de oeste para leste. Ele sobe a serra e, ao descer novamente, causa seca e aquecimento», detalha a pesquisadora.
«Esse movimento do ar deixa as temperaturas ainda mais altas em alguns lugares», complementa ela.
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Sensação de 70 graus?
Nos últimos dias, também começaram a circular na internet projeções de que a sensação térmica pode chegar aos 70°C em algumas partes do país.
Essa estimativa se baseia numa tabela do Grupo de Climatologia Aplicada ao Meio Ambiente da Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (USP).
A ferramenta cruza duas informações: a temperatura e a umidade do ar.
Se os termômetros baterem 41°C e a umidade estiver em 80%, por exemplo, a sensação térmica de fato beira os 70°C, segundo essa tabela.
Mas outros órgãos de meteorologia, como o InMet e o MetSul, estimam que a sensação térmica pode chegar a até 50°C em alguns locais.
Hirota pondera que a sensação térmica é uma medida muito variável.
«As sensações térmicas previstas nesses modelos levam em conta um padrão de medida, com condições específicas», diz ela.
«É por isso que relógios de rua, aqueles que medem a temperatura, podem dar diferentes valores. Isso vai depender se o sol bate diretamente ali, a sensibilidade dos dispositivos, os ventos…»
E essa variabilidade toda acontece também com os seres humanos.
«Temos fatores externos que influenciam na sensação térmica, como umidade, vento, sombra e temperatura», diz a pesquisadora.
«Mas cada pessoa pode ter uma sensação individual, que depende da idade, do nível de desidratação, entre outros fatores», complementa ela.
Isso acontece porque possuímos uma série de «termostatos», que sentem a temperatura do ambiente e tentam regular para que o corpo fique sempre mais ou menos em 37 °C.
Em dias muito quentes, uma maneira de fazer isso é através do suor: a liberação de líquidos literalmente resfria a pele para mantê-la dentro dos limites aceitáveis para nossa própria sobrevivência.
Porém, como explicado mais acima, esse processo de transpiração é influenciado por uma série de fatores externos — uma umidade elevada, por exemplo, dificulta a liberação de líquidos pelo organismo, o que faz a sensação térmica subir.
O mesmo acontece com um indivíduo que não está hidratado o suficiente (ele não tem um estoque de água a ser liberado) ou com os mais velhos (cujo «termostato» fica um pouco mais impreciso pelo processo natural do envelhecimento).
Por isso, nesses dias de muito calor, é ainda mais importante fazer uma boa hidratação com água e frutas, usar roupas leves, arejar ambientes fechados e buscar o abrigo de sombras sempre que possível.
Todos esses cuidados ajudam o corpo a lidar melhor com a temperatura extrema e aliviam a sensação térmica individual.
E essas ações serão cada vez mais necessárias num cenário de mudanças climáticas.
«Os relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas apontam que eventos extremos, como secas, frio, chuvas e ondas de calor já estão mais frequentes», lembra Hirota.
«Isso não é algo para o futuro. Já vemos acontecer agora mesmo», conclui ela.
BBC
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